8 de março de 2009

A Igreja e a excomunhão de quem fez um aborto de uma criança estuprada

por Gilberto de Souza, advogado

Neste início de mês de março muito se tem comentado sobre o estupro de uma menina de 9 anos por seu padrasto, sua gravidez de gêmeos, o aborto aconselhado pelos médicos, a autorização deste pela justiça e, principalmente, sobre a atitude do Arcebispo de Olinda em excomungar a todos aqueles que participaram do aborto na menina.

Diante de assunto tão palpitante este blogueiro, que é católico crismado, não poderia deixar de se manifestar.

O direito a vida é o mais sagrado direito que temos porque sem ele não conseguiríamos exercer nenhum dos outros direitos. Desta forma, creio que a vida de ver protegida, e este é o único ponto em que concordo com o Arcebispo. Só isso!

Quando vi a notícia pela primeira vez ao escutar que uma criança de 9 anos estava grávida de gêmeos imediatamente concluí que se esta gravidez fosse levada adiante esta menina e as duas crianças tinham altíssimas chances de vir a falecer devido a falta de estrutura física de uma menina para suportar uma gravidez, ainda mais de gêmeos. Qualquer leigo sabe disto

No momento em que tomei conhecimento de que a menina tinha aproximadamente 35 Kg pensei que uma mulher pode engordar entre 10 e 13 Kg de uma gravidez normal, ou seja, quase a terça parte do peso da menina.

Qualquer um com mais de 15 anos de idade e plenamente capaz de suas faculdades mentais, sem a necessidade de ter diploma de medicina, chegaria a conclusão de que prosseguir com a gravidez seria condenar a menina juntamente com as duas crianças a morte, e não existe pena de morte no Brasil nem para as maiores atrocidades, quem dirá para uma criança cujo crime aos olhos da Igreja é a inocência e a fragilidade e que, para ela, são tão graves que ela merecia a pena máxima: a morte!

O prosseguimento da gravidez seria nefasto mesmo que ocorrresso um milagre de todos se salvarem com vida. Fatalmente os bebês não teriam um desenvolvimento adequado no útero materno e no nascimento não teriam o tamanho e o peso de criança que acabara de nascer, sem mencionar nas outras hipóteses que a classe médica pode explicar de forma mais satisfatória.

Pode até ser radical esta idéia, concordo, é exagerada, mas não podemos nos esquecer da história de nossa “Santa” Madre Igreja Católica.

Quem não lembra da “Santa” Inquisição? O acusado, coitado, não tinha direito a fazer sequer a própria defesa, sua única defesa era se confessar o mais rápido possível e ser morto logo porque a tortura até ser arrancada a confissão era tão cruel que a morte rápida seria um alívio.

Mas que é isso companheiro? Na inquisição réu confesso teria tratamento digno a uma morte rápida? Se um inocente era torturado até confessar, depois que ele se tornara culpado é que a “Santa” Igreja não iria lhe deixar as coisa fáceis não é mesmo?

A execução era em praça pública, para todo mundo ver com a Igreja era boazinha e compreensiva, principalmente com as bruxas ou os que tinham pacto com o demônio, que eram queimados vivos em praça pública, o pior não eram jogados em um grande incêndio para morrerem asfixiados, muito pelo contrário, amarravam num poste, enchiam de palha e lenha em baixo acendendo-o para a pobre criatura morrer aos poucos, assando primeiro as pernas… É melhor nem ficar imaginando como deveria ser isso para continuarmos a ir na na “Santa” Igreja Católica sempre benevolente com seus fiéis ou pelo menos com alguns deles.

Mas em tudo isso o Julgamento que era sem dúvida o mais interessante.

Aquelas pobres pessoas quando suspeitas de bruxaria ou pacto com o diabo eram torturadas até se confessar ou submetidas ao sistema das ordálias, o julgamento divino no qual o inocente seria protegido por um milagre de Deus. Este foi e é sem dúvida até o hoje o sistema mais justo de julgamento que eu há estudei em minha vida, pena que não se estuda nas cadeiras de direito penal, facilitaria a vida de muita gente graúda ao escolher e punir um bode expiatório.

Mas como era a final um julgamento pelo sistema das ordálias? Eu particularmente não me lembro muito bem, estudei quando era adolescente e ficara e continuo muito impressionado com a crueldade que a Igreja tratava aquelas pobres pessoas, que só tinham uma alternativa: ser considerados culpados.

O julgamento mais simples das ordálias era dar uma brasa para uma suspeita de bruxaria se a brasa queimasse a mão da mulher ela era bruxa, se não era inocente. Alguém já segurou um brasa para saber qual é o resultado? Existe alguma chance de não queimar a mão?

Uma outra prática era amarrar uma grande pedra nos pés do indiciado e jogar dentro de um rio bem fundo com as mão amarradas, se sobrevivesse era porque era inocente. Em todos estes julgamento a Igreja fez a sua justiça divina!

Em um filme que não lembro bem o nome, contava a história, segundo o filme verídica, de um padre que matou centenas de mulheres e criou a fogueira ele quando dizia que a pessoa era adoradora do diabo, amarrava a pessoa e joga num rio, se a pessoa tentasse nadar ou se mexesse ero o demônio que a estava aliviando da dor e por isso ela deveria ser enforcada por ser adoradora do diabo.

Uma outra era colocar a pessoa numa espécie de barril cheio de estacas de ferro e rolar num morro se a pessoa sobrevivesse era inocente.

Não tenho conhecimentos de outros métodos, mas estes são os mais conhecidos.

Como pudemos ver a nossa duas vezes Milenar Igreja, que ainda não atingiu sua maioridade brincou muito de Deus na Idade média e na Idade das trevas, Galileu quase foi queimado por dizer que a terra girava em torno do sol, olha o absurdo! Onde já se viu a terra girar em torno do sol? Tanto é que ele se retratou pelo terrível engano de forma espontânea.

Isto até pode fazer séculos que aconteceu, mas a Igreja é a mesma, e esta pobre criança foi colocada num sistema de ordália moderno, se a justiça não tivesse se separado da Igreja hoje ela estaria fadada a um castigo tão grande que seu corpo não iria aguentar. A “Santa” Madre Igreja Católica continua com suas ordálias, mas o Judiciário não permite que elas se concretizem com a graça de Deus, que nunca se coloca contra a verdadeira justiça! Aquela que preserva a vida.

A Igreja já brincou muito com a vida dos homens e ainda continua brincando. Vejamos outros fatos interessantes.

É de conhecimento que Igreja Católica foi proprietária de quase toda a Europa e acabou ficando apenas com um pequeno território dentro da Itália, em Roma denominado Vaticano, que hoje é um país independente, o menor do mundo.

Entretanto nem sempre foi assim. Antes da Segunda Guerra Mundial Benito Mussolini, um fascista, tornou o Vaticano Independente, fez a alegria da Igreja Católica que exerceria a soberania de um Estado Independente dentro de outro, a Itália.

Todos sabem que Mussolini era amigo de um grande Nazista, o Adolf Hitler. Com a chegada a Segunda grande guerra a Igreja Católica silenciou, não falou um nada contra as barbaridades cometidas pelo Eixo do mal, que era liderado por Hitler e Mussolini. Dizem as más línguas que a Igreja não falou nada porque ainda estava agradecida ao líder Fascista pela Independência do Vaticano e por isso nunca teceu uma crítica sequer.

Não sei se Hitler era católico ou se Mussolini era, mas acredito que sim e nenhum dos dois foi excomungado e, segundo a Igreja, nunca cometeram crime grave o suficiente para serem excomungados. Se alguém tiver o conhecimento da religião dos dois por favor não deixem de me corrigir, ficarei muito agradecido. Nesta época foram mortos milhares de judeus e a Igreja nunca falou naqueles tempos modernos obscuros pela guerra e o genocídio.

O que me intriga é que o Papa João Paulo II pediu desculpas por isto e recentemente um bispo ou arcebispo da Alemanha andou falando que o holocausto nunca aconteceu e sequer recebeu uma repreensão do Papa Bento XVI. Isso até deixa a impressão de que a Igreja atual, do Papa Bento XVI, realmente acredita que milhares de judeus nunca foram mortos em campos de concentração nazistas.

Os tempos passaram, a Igreja, ainda bem, não tem mais as rédeas da justiça, e ela ainda não mudou seu modo de ver o mundo e interagir com ele e o seu progresso.

Se diz a transmissora e aplicadora da palavra divina, mas se esqueceu quais são os pilares da fé, o amor e o perdão.

Desde que criança aprendi que Deus sacrificou a vida de seu próprio filho para nos salvar e nos conceder perdão pelos nossos pecados, os que cometemos e os iriamos cometer.

Ao ver a atitude radical deste bispo lembro que a Igreja está repleta de homens que nunca pensaram em ser pais, nunca constituíram uma família devido ao tal de celibato. Acho que deve ser por isso que eles não sabem exatamente o sentido da palavra amor e perdão. Nos mostraram isso na história. A Igreja Católica é a mesma da inquisição, a diferença é que ela não tem mais exércitos e nem mais o domínio sobre a Justiça dos homens.

Não sou contra a Igreja ser contra o aborto, mas toda regra tem sua exceção que a justifica.

Se Deus é pai acredito piamente que Ele deve ser o maior de todos e me pergunto se pessoas que nunca tiveram filho(a) ou nunca pensaram em ter filhos podem interpretar a vontade do maior pai de todos, ainda mais num caso tão delicado como o de uma menina de 9 anos grávida.

Onde está a fraternidade? A Igreja não todo ano uma Campanha da Fraternidade? O que adianta fazer uma campanha se não sabem o significado da palavra que a intitula?

Não podemos mais aceitar uma Igreja tão hipócrita, ela precisa urgentemente mudar seus velhos e bárbaros conceitos.

A excomunhão das pessoas que participaram do aborto pelo Arcebispo de Olinda e Recife, dom josé cardoso sobrinho (assim mesmo ele não merece ter o nome escrito em letras maiúsculas),  é prova de que a Igreja precisa rever alguns de seus conceitos e saber temperar o comportamento humano. Eu me pergunto se este Arcebispo tem idéia do sofrimento dos verdadeiros pais da criança grávida? Acredito que não porque ele não tem filhos e nunca passou nas suas idéias ser pai um dia, ou se ele pensou um segundo sequer nas consequências para esta menina, uma inocente criança para nós porque para este cara ela é tão pecadora que ele a condenou a morte ou no mínimo a uma vida de sofrimento.

Na verdade o que importa para a Igreja é a sua vontade, desconsideram qualquer ensinamento divino e aplicam a sua justiça, aquela do sistema das ordálias onde toda pessoa acusada de crime fatalmente é considerada culpada.

A Igreja perdeu a oportunidade de nos ensinar o sentido da palavra perdão. Opa! Me enganei, lembra? Ela perdoou o estuprador, este não foi excomungado. Não importa a atrocidade existem crimes que a Igreja simplesmente ignora porque não contrariam as suas convicções.

Posso até concluir que neste caso a justiça quem fez foi o magistrado e os médicos, como de maneira diferente disse o presidente Lula.

E o arcebispo e a Igreja igreja onde se encontram com tudo isso? Se encontram em uma encruzilhada, ou mudam sua forma cega de ver o mundo ou continuarão a perder fiéis para esses cultos que se proliferam por todo o mundo como a Igreja Renascer e outras tantas.

Alguns dizem que a Igreja já prestou grandes serviços a humanidade, eu digo que ela nos deu mil anos sem um único desenvolvimento tecnológico, lembram que queimaram Copérnico por dizer que a terra girava em torno do sol? Quais os fatos realmente importantes que ocorreram nesses mil anos da idade das trevas?

Está chegada a hora de a Igreja se reciclar e rever seus conceitos. Se ela não fizer isto por si só, devemos exigir esta mudança e a única forma que temos de fazer isso é ou reclamar com os padres ou, como muitos de nós já fizemos, deixar de frequentar essa Igreja que não é Santa coisa nenhuma, é muito mais pecadora que qualquer um de nós, basta ver a sua sangrenta história.